Recentemente ouvi um comentário de um membro que anda um pouco ausente, reclamando de que os cultos na Caverna estão um pouco “chatos”.

Como um dos pastores da Caverna o meu reflexo quase automático é defender a qualidade do culto, dizendo que temos um bom louvor e uma boa exposição reflexiva da Palavra. No entanto, acho que a melhor resposta não é esta. O problema não está na qualidade do culto, do louvor, da pregação, da dinâmica da reunião. O problema está na maneira como se vê o culto.

Há um tempo atrás, numa reunião de pastores, ouvi um lamento de um deles que me chocou e me deixou penalizado por ele. Ele se reclamou de que hoje em dia é muito difícil ser pastor. “Você tem que fazer uma coisa nova todo dia, inventar algo diferente para manter os membros. Senão eles vão para outra igreja.”

Fiquei com muita pena desse pastor e da maneira como ele se relacionava com sua comunidade. Havia uma atitude de tentar se fazer algum tipo de espetáculo, de apresentação ou “show”, que tinha de ser inovadora e empolgante para se manter uma boa audiência. Fiquei pensando em como isso era uma distorção completa do que significa ser igreja.

Acredito que ser igreja significa basicamente participar de um corpo, unido em Cristo, e com vínculos de amor e compromisso, caminhando na direção da mútua edificação, do serviço ao próximo, do crescimento em nosso amor a Deus, tudo isso junto. As reuniões comunitárias seriam apenas um componente (importante) desse projeto, onde a comunidade celebraria junto a bondade e misericórdia de Deus por nós, e um espaço onde Deus possa se manifestar no meio de seu povo, de várias maneiras.

Assim, não vamos ao culto para “dar uma nota de 0 a 10” em como foi o louvor ou a pregação, mas numa atitude de estar com meus irmãos para expressar comunitariamente nossa gratitude e louvor a Deus, e tentar ouvir o que Ele tem a dizer em sua palavra. Se saio insatisfeito, deveria estar insatisfeito primariamente comigo mesmo, por minha incapacidade ou dificuldade de louvar ao Senhor e de ouvir Sua voz, mesmo que o estilo do louvor e da pregação não me agradem.

Escrevo isto não para justificar ou minimizar qualquer problema da comunidade na organização e no andamento dos cultos, tentando manter a frequência mesmo dos insatisfeitos. Nunca tivemos a preocupação em ser uma igreja grande, posso dizer. Meu objetivo é corrigir atitudes erradas em relação ao culto e à comunidade, que minam a nossa saúde espiritual, e fazem com que muitos vagueiem de igreja em igreja procurando um culto mais agradável, porém sem criar os vínculos comunitários de serviço, doação, compromisso e relacionamento que nutrem nossa vida com Deus, deixando assim de amadurecer e crescer como cristãos.

Precisamos ter uma atitude diferente na nossa maneira em nos achegar à comunidade. Devemos nos perguntar sempre como podemos servir e participar da reunião para que cada um possa ser uma benção para seu irmão e possa glorificar a Deus melhor. Não estamos ali como meros ouvintes passivos mas cada um de nós tem algo importante a oferecer, tanto a Deus quanto a nossos irmãos. Devemos nos perguntar a cada reunião: como posso louvar a Deus aqui pelo que Ele feito em minha vida? Será que alguém aqui precisa de uma oração minha, uma palavra amiga, uma acolhida?

Que o Senhor nos faça uma comunidade que o louva, ouve Sua voz e está comprometida uns com os outros.

Eduardo Lucas, pastor.